sábado, 1 de março de 2014

Cidades de Papel


“Escute, filho. O negócio é o seguinte: algumas pessoas, normalmente as meninas, têm o espírito livre, não se dão bem com os pais. Esses adolescentes são como balões de hélio presos por um barbante. Eles fazem força na direção oposta ao barbante e fazem mais força, até que logo algo acontece, o barbante se rompe e eles vão embora, voando. E talvez a gente nunca mais os vejas. Eles pousam no Canadá ou algo assim, começam a trabalhar em um restaurante, e, antes que se deem conta, o balão passou trinta anos miseráveis na mesma lanchonete servindo café. Ou talvez daqui a uns três ou quatro anos, ou três ou quatro dias, os ventos dominantes tragam o balão de volta para casa, seja porque ele precisa de dinheiro ou porque tomou juízo, ou porque sente falta do irmão caçula. Mas preste atenção, filho, o barbante sempre arrebenta. […] O problema com esses balões é que existem muitos deles. O céu está lotado deles, esbarrando uns nos outros enquanto voam por aí, e, de um jeito ou de outro, todos esses malditos balões acabam na minha mesa, e depois de um tempo um sujeito acaba ficando desanimado. Balões para todos os lados, e cada um deles com uma mãe ou um pai ou, Deus me livre, os dois, e depois de um tempo não se consegue mais enxergá-los individualmente. Você olha para todos aqueles balões lá em cima e consegue ver todos eles, mas não consegue enxergar apenas um. — Ele faz uma pausa e inspirou profundamente, como se tivesse acabado de se dar conta de alguma coisa. — Mas de vez em quando você conversa com um garoto cabeludo e de olhos arregalados e se sente inclinado a mentir para ele, pois ele parece ser um garoto legal. E você se sente mal por ele, porque a única coisa pior do que o céu cheio de balões que você vê é o que ele vê: um céu azul imenso com apenas um balão. Porém, uma vez que aquele barbante se rompe, filho, você não pode remendá-lo. Compreende o que estou dizendo?”
—  Cidades de Papel, John Green



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