segunda-feira, 29 de junho de 2020

Resenha: Pequenos Incêndios Por Toda Parte


Existem obras que nos fisgam por suas capas bem elaboradas, outras pela sinopse. Algumas nos arrebatam por seus títulos e existem aquelas que são, meramente, uma indicação de um amigo ou de um website. Independentemente do que seja, sempre existe algo que nos leva a ler uma história.

O motivo pelo qual decidi ler o segundo romance da autora americana Celeste Ng foi, além de sua sinopse, a perspectiva de me deparar com uma trama peculiar que instigasse a minha curiosidade tanto quanto o resumo já havia feito.

Pequenos Incêndios Por Toda Parte se passa na cidadezinha de Shaker Heights, um local repleto de regras rígidas que norteiam a vida de todos os moradores. Nela, as aparências valem mais do que tudo e a Família Richardson entende muito bem disso.

Elena Richardson é uma típica mulher de classe média alta proveniente de uma família tradicional de Shaker Heights, local em que nasceu, cresceu e para onde retornou após concluir a faculdade. Casada com Bill Richardson, repórter sênior no jornal Sun Press e mãe de quatro adolescentes (Lexie, Trip, Moody e Izzy), ela é capaz de fazer o que for necessário para manter as coisas em seus devidos lugares.

Mia Warren, por sua vez, é o completo oposto da Sra. Richardson. Uma artista de espirito livre que nunca viveu a mercê das regras sociais e que, junto à sua filha, Pearl, viaja como uma nômade sem permanecer mais do que seis meses em uma única cidade... até chegar a Shaker Heights.

Quando chegam nessa cidadezinha fabricada, Mia e Pearl acabam alugando o apartamento que pertence a Elena e, a partir disso, o que deveria ser meramente uma relação de inquilino e proprietário se transforma em algo mais quando os filhos da família Richardson se encantam com a peculiaridade das novas moradoras.

Conforme as famílias se aproximam e passam a se conhecer mais intimamente, diversas situações cotidianas são apresentadas. Entretanto, apesar de estas serem semelhantes a fatos presentes na vida do leitor, muitas delas possuem um aspecto plastificado que dificultam a identificação com os personagens.

Além disso, no decorrer do romance, a trama é apresentada de forma não linear: os acontecimentos são descritos de maneira desordenada, misturando perspectiva de vários personagens em um único capítulo e trazendo fatos do passado e do presente embaralhados, dificultando a compreensão do enredo e da história central.

Apesar de o livro trazer protagonistas femininas marcantes e abordar temáticas relevantes como abandono familiar e aborto, a maneira como estas foram desenvolvidas dificultou a imersão na obra. Sem contar que os acontecimentos demoram demasiadamente para serem desenvolvidos, tornando a leitura um tanto quanto maçante.

Entretanto, mesmo com todos estes fatores que atrapalharam minha experiência com a obra, acredito que Pequenos Incêndios Por Toda Parte possui algo especial em seu enredo (mas que me faltou feeling para identificar e compreender) que atrai a atenção de leitores e espectadores, afinal, o romance não deve ter se tornado uma série de streaming e ganhado tanta repercussão à toa.


Escrita por Gabrielle Colturato

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Resenha: Seis Anos Depois


Se você é um apreciador de tramas repletas de suspense e mistério, mas ainda não leu nenhum romance de Harlan Coben, venho lhe informar que está perdendo a oportunidade de se deleitar com obras primorosas.

Aclamado pela mídia e conhecido como “o mestre das noites em claro”, Coben é um dos autores americanos mais renomados no gênero: considerado o número 1 do New York Times e vencedor dos três principais prêmios da literatura policial americana*. Seus livros já foram traduzidos para 43 idiomas e totalizam mais de 70 milhões de exemplares impressos em todo o mundo.

Dentre as obras publicadas**, está Seis Anos Depois. Neste romance, conhecemos Jacob Fisher, um professor universitário do Lanford College que se recolheu em um retiro para escritores, em Vermont, com o intuito de redigir sua dissertação sobre Estado de Direito. Próximo dali, estava a Colônia de Renovação Criativa, um retiro artístico muito diferente daquele destinado aos escritores.

Certa noite, os participantes de ambos os retiros se reuniram a fim de dividir seus trabalhos. Nesta ocasião, Jake conhece Natalie Avery, uma talentosa pintora, por quem se apaixonou instantaneamente. Durante os meses no retiro, os dois aproveitaram o tempo um ao lado do outro: visitando cafés, restaurantes e outros lugares.

Tudo parecia perfeito entre eles, até Natalie lhe enviar um bilhete informando que, em breve, se casaria com Todd, seu ex-namorado. Apesar de não compreender os motivos que levaram ao rompimento, Jake decide ir ao casamento a fim de obter respostas, mas a única coisa que consegue é um pedido para que ele nunca mais os procure.

Durante seis anos, ele consegue manter sua promessa permanecendo distante da única mulher que amou, mas ao se deparar com o obituário de Todd Sanderson, o homem com quem Natalie se casou, Jake sente-se incapaz de não ir atrás de sua amada.

Quando passa a procurá-la, suas buscas não o levam a lugar algum. Com isso, Fisher desconfia ainda mais do sumiço repentino de Natalie. Intrigado com tantos mistérios acerca do caso, ele se mete em todo o tipo de confusão para descobrir algo que lhe ajude a reencontrar aquela mulher.

Conforme a história de desenvolve, inúmeras informações são reveladas sem que a situação chegue a um desfecho. Seis Anos Depois é um romance intenso e de tirar o fôlego, que escancara ao leitor que, nem sempre, conhecemos verdadeiramente aqueles que mais amamos.

Harlan Coben nos traz, mais uma vez, uma trama envolvente, cheia de percalços, mas muito bem construída.


Escrita por Gabrielle Colturato



*: Harlan Coben foi o primeiro escritor a receber os prêmios Anthony Award, Shamus Award e Edgar Allan Poe.
**: Coben já lançou, ao todo, trinta e dois livros desde sua estreia, em 1990. Suas obras mais conhecidas são a renomada série literária de Myron Bolitar e Mickey Bolitar e os romances independentes Não Conte a Ninguém, que recebeu uma adaptação cinematográfica francesa em 2006; Não Fale com Estranhos, transformado em uma série pela Netflix; Não Há Segunda Chance e Apenas Um Olhar, que também foram adaptados para minisséries; entre outros.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Resenha: A Garota do Lago



Em seu romance de estreia, o autor estadunidense Charlie Donlea releva seu talento para o gênero de ficção policial e mostra a que veio. Publicado no Brasil em 2016 pela Faro Editorial, o livro A Garota do Lago leva o leitor para Summit Lake, uma cidadezinha nas montanhas Blue Ridge caracterizada por sua beleza e tranquilidade, mas que acabou se tornando o cenário de um crime brutal.

Becca Eckersley era uma jovem de beleza estonteante que atraia, facilmente, a atenção daqueles que a cercavam. Sua vida era (quase) perfeita: vinda de uma família com posses, estudante de direito com uma posição garantida no escritório do pai, um renomado advogado. Ela não poderia esperar menos que um futuro promissor para si, mas seus sonhos foram interrompidos quando ela decidiu se isolar, por um final de semana, na palafita de sua família.

Em Miami, Kelsey Castle lida com seus próprios traumas. Quando decide retornar à redação da revista Events, após um mês de licença, seu chefe, Penn Courtney, lhe envia para Summit Lake a fim de investigar o assassinato de Becca Eckersley.

No decorrer do livro, o autor constrói a narrativa alternando eventos do passado e do presente, conectando as protagonistas. Ao mesmo tempo que uma sucessão de acontecimentos marca os últimos catorze meses da vida de Becca, Kelsey desvenda os segredos que abrangem o caso com a ajuda das pessoas que cruzaram o seu caminho durante sua estadia na cidade.

Além disso, conforme a história se desenrola, o leitor se depara com inúmeras reviravoltas que são reveladas de forma bombástica ao final de cada uma das quatro partes que constituem a obra, deixando a gostosa sensação de que a cada momento um novo segredo poderá ser revelado.

A Garota do Lago é um romance policial estarrecedor e surpreendente, com um enredo sólido e intrigante que desperta o interesse do leitor a cada página, só sendo possível largá-lo ao chegar na última.



Escrito por Gabrielle Colturato

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Resenha: Palavras em Azul Profundo


Escrever uma resenha já é, por si só, uma tarefa difícil. Afinal, ao fazê-lo, estamos analisando aquilo que pode ser a coisa mais importante na vida de uma pessoa. Entretanto, existem obras que elevam essa missão a níveis desafiadores, tamanha sua magnificência. Palavras em Azul Profundo é uma delas.

Escrito pela autora australiana Cath Crowley e publicado em 2019 pela editora Plataforma 21, o romance é desenvolvido por meio da perspectiva de Rachel Sweetie e Henry Jones, dois jovens que cresceram em Gracetown e, desde sempre, foram melhores amigos. Entretanto, a amizade dos dois é abalada quando ela se muda para Sea Ridge para morar com sua avó e deixa de responder as cartas enviadas por ele.

Três anos se passam até que Rachel retorna à cidade com o intuito de se distanciar do mar e esquecer tudo que passou nos últimos dez meses devido a morte de seu irmão, Cal. Porém isso não será tão simples quando ela imaginava que seria.

Quando chega em Gracetown, sua tia Rose não lhe dá outra opção além de superar sua perda e seguir em frente. Com isso, Rachel é obrigada a trabalhar no sebo da família do seu ex-melhor amigo e, por consequência, encarar o seu passado e as pessoas que deixou para trás.

Henry, por sua vez, enfrenta mais um de seus términos com Amy, esperando o momento em que ela voltará para ele como sempre faz. Além disso, ele tem em suas mãos a palavra final quanto ao futuro do sebo de sua família. Quando descobre que Rachel, com quem não fala há três anos, regressou à cidade e trabalhará com ele na Howling Books seu mundo sai ainda mais dos eixos.

No sebo, Rachel é incumbida de catalogar todos os livros da Biblioteca de Cartas, uma seção da Howling Books em que os clientes podem circular palavras que amam, sublinhar frases, fazer anotações nas margens, deixar ideias sobre o significado das coisas ou cartas para desconhecidos.

Toda a trama de Palavras em Azul Profundo, bem como a vida e a amizade de Rachel e Henry, se desdobra em torno da Biblioteca de Cartas, um lugar mágico que encanta qualquer um que seja apaixonado por livros. Bem, pensando melhor, pode ser que alguns leitores se incomodem com a ideia de tantos livros rabiscados, mas a forma como isso é explorado no romance é realmente fascinante, já que as obras literárias se tornam um meio de conexão entre pessoas.

A forma como a autora explora grandes livros da literatura clássica e atual é cativante e aquece o coração do leitor. Além disso, o romance carrega ensinamentos sublimes sobre perda, amor, amizade, superação e recomeços e traz uma mensagem tocante sobre o poder das palavras. A combinação desses elementos enriquece a história e a torna mais intimista, facilitando o envolvimento com as situações enfrentadas pelos personagens no decorrer do enredo.

Palavras em Azul Profundo foi um livro que me tocou profundamente por cada uma de suas particularidades, mas obviamente por falar sobre o que mais amo nessa vida: livros!


Escrita por Gabrielle Colturato
Participação de Katharina Martins

domingo, 7 de junho de 2020

Resenha: Uma Casa no Fundo de Um Lago


Josh Malerman é um contista e romancista americano que ficou conhecido na esfera literária após a repercussão de seu livro de estreia, Caixa de Pássaros, publicado em 2014 pela Ecco Press (editora HarperCollins) e em 2015 pela editora Intrínseca.

Desde então, Josh publicou inúmeros contos e outros dez romances (de acordo com o Wikipédia). Entre eles está o livro Uma Casa no Fundo de Um Lago, publicado no Brasil em 2016 também pela editora Intrínseca.

No início deste romance, o leitor é transportado para o primeiro encontro de Amelia e James. Entretanto, o que parecia ser um simples passeio de canoa transforma-se em uma sequência de descobertas quando os dois encontram um lago desconhecido. Além disso, ao explorarem esse novo lago, o casal se depara com algo ainda mais inusitado: o telhado de uma casa.

A partir disto, Amelia e James sentem-se fascinados pela existência de uma casa no fundo de um lago e passam a visitá-la constantemente. Conforme os adolescentes desvendam os cômodos da casa submersa descobrem que aquele local mágico é mais rodeado de mistérios do que eles são capazes de imaginar.

Apesar de possuir um nome instigante, Uma Casa no Fundo de Um Lago não entrega nada de incrível ao leitor. Tendo em vista que a história transcorre de forma repetitiva e sem grandes acontecimentos por, pelo menos, 120 páginas, o título da obra se torna o maior spoiler que um leitor poderia receber sobre o romance.

Os elementos gráficos da capa e a sinopse do livro vendem uma aura de suspense que, na verdade, não existe. As passagens não são envolventes ao ponto de incentivar a leitura, tornando a obra ainda mais decepcionante. Os capítulos apenas apresentam mais do mesmo: a Amelia e o James mergulhando no terceiro lago para adentrar a casa submersa e buscando meios de conectarem-se ainda mais com ela. O desenrolar da história é desanimador e o livro termina de uma forma incompreensível, oferecendo pouco crédito ao restante da trama.

Se os demais livros de Josh Malerman valem mais a pena do que este, vocês terão de descobrir sozinhos, pois a experiência com Uma Casa no Fundo de Um Lago me desestimulou a ler qualquer outra obra deste autor.


Escrita por Gabrielle Colturato