Minha história com O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram começou em 2018, na 25ª
Bienal Internacional do Livro de São Paulo, quando me deparei com seu título
inusitado na pilha dos livros que custavam R$10. Na época, eu trabalhava como
Jovem Aprendiz recebendo um salário ínfimo de modo que qualquer obra literária
que custasse um valor simbólico interessava-me muito mais se comparada as com
valores mais altos.
Infelizmente, depois de adquiri-lo, cometi o erro
de abandoná-lo na minha estante e dar pouquíssima atenção a ele. Até que mais
recentemente, em meio a dúvida sobre qual livro começaria a ler, me deparei com
ele e, mais uma vez, me senti instigada por seu título que desencadeou uma
curiosidade repentina e avassaladora em mim.
Foi então que decidi seguir nessa empreitada e ler
O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram,
um romance LGBT escrito pela autora brasileira Ana Luiza Savioli e publicado
pela Hoo Editora em 2016.
A trama começa com Harry Darwin, um bolsista de
polo aquático no colégio St. Raphael, sendo resgatado no Lago dos Padres por um
completo desconhecido. Quando acorda em sua cama, na manhã seguinte, ele não se
lembra de nada. O que estava fazendo no lago? Quem o resgatou? Como veio parar
em seu quarto? Todas essas dúvidas enchem a cabeça do garoto.
Naquele mesmo dia, o colégio recebe a notícia de
que Damon Knight, um aluno que há dois anos desapareceu sem deixar vestígios,
foi encontrado morto próximo ao lago. No velório, Harry têm um lapso de memória
ao se deparar com o corpo do jovem e descobre que foi ele quem o salvou no lago,
na tarde do dia anterior, deixando-o ainda mais confuso.
Quando Matthew Knight chega à escola ocupando o
quarto que era de seu irmão, Harry busca maneiras de aproximar-se do garoto a
fim de entender os motivos que levaram Damon a salvá-lo e, em seguida,
suicidar-se. Entretanto, descobre que os mistérios que rodeiam os Knight são
muito mais profundos do que imaginava.
Ao mesmo tempo que Darwin começa a compreender
certos acontecimentos estranhos que se desenrolam na escola, novas incógnitas
surgem e Matthew não parece disposto a ajuda-lo a resolvê-las.
Apesar de possuir passagens confusas devido
complexidades temporais, a autora explora destes artifícios com magnificência e
desenvolve um enredo sólido que permite a imersão do leitor e facilita a
identificação com os personagens. Tudo isso faz com que o livro se torne mais
fascinante a cada capítulo ao ponto de ser impossível largá-lo.
O Livro das
Coisas que Nunca Aconteceram é uma obra sobre o tempo, sobre amores e
amizades e, também, sobre sacrifícios. Seu final é surpreendente e dá sentido à
história como um todo. Não se assuste se, nos capítulos finais, sentir-se o gif mind blown em pessoa, pois foi
exatamente dessa forma que me senti.
Escrita por Gabrielle Colturato