quinta-feira, 17 de dezembro de 2020

Aulas a distância revelam a importância do ensino presencial

“A pandemia trouxe uma nova dinâmica de ensino, de modo que alunos e professores tiveram que reaprender o modo como estudam e ensinam”, afirma a psicóloga Juliana Tonelotto


O aumento exponencial no número de casos de Coronavírus e a adoção de quarentena no Estado de São Paulo obrigou inúmeras instituições de ensino a migrar as aulas presenciais para o ambiente on-line. Desde então, alunos e professores precisam se desdobrar a fim de gerenciar essa nova rotina e garantir a continuidade do ano letivo.

Uma visita breve às redes sociais revela uma infinidade de críticas acerca desta modalidade de ensino, mostrando que muitos alunos foram impactados por estas mudanças. “O ensino remoto prejudica os alunos como um todo, mas afeta principalmente aqueles que sequer têm acesso a essa modalidade, pois para assistir às aulas é necessário que o estudante possua um equipamento minimamente razoável e, também, o acesso à internet”, pontua Katharina Ferreira, moradora de Campinas e estudante de Ciências Sociais.

Independentemente da série, do turno e da instituição, as adversidades têm sido uma constante na vida dos alunos. Dentre os principais desafios relatados pelas alunas Maryana Rodrigues, Katharina Ferreira, Manuella Rossi e pelo aluno João Pedro Barbosa estão a dificuldade de absorção dos conteúdos, a redução de interação com os colegas de turma e com os professores e a falta de ambiente apropriado para os estudos. 

Entretanto, não são apenas os alunos que enfrentam dificuldades neste cenário educacional inédito. Muitos professores estão aprendendo, a duras penas, uma nova forma de ensinar e se conectar com seus alunos.

As professoras Renata Ivo Barbosa, Andreza Briganó e Priscila Cunha apontam a necessidade de adequações no planejamento de aulas, a priorização de alguns conteúdos em comparação a outros devido à redução de carga horária, mas sobretudo à dificuldade em estimular os estudantes a participarem das aulas.

“É incontestável que alunos, professores e até mesmo algumas instituições de ensino têm se empenhado arduamente, dando o máximo de si, para fazer com que este ano tão caótico não seja perdido”, diz Priscila Cunha. Entretanto, “em uma sociedade desigual, a forma como a educação (e a falta dela) afeta os alunos é desproporcional, pois ela é feita de maneira desigual. Neste momento pandêmico, tornou-se evidente que os alunos precisam dos professores”, ressalta Andreza Briganó.

Contudo, apesar de todas as dificuldades pontuadas acerca do ensino remoto, tanto os alunos quanto os professores concordam que não haveria outra alternativa viável que atendesse à urgência deste momento. Embora não atenda a todos os alunos, devido a impossibilidade de acesso enfrentada por alguns, as aulas on-line foram a melhor opção disponível para que os conteúdos do ano letivo continuassem sendo transmitidos aos discentes.

Para além das dificuldades mencionadas, o isolamento aumentou os níveis de estresse e a sensação de frustração, tornando as demandas ainda mais desgastantes e impactantes para a saúde emocional e mental.

De acordo com a psicóloga Juliana Tonelotto, o planejamento e a percepção de sinais do corpo são essenciais durante este período. “É imprescindível que saibamos separar o momento de estudo e de trabalho, apesar de o ambiente disponível para estes afazeres ser o mesmo local de lazer e, também, de descanso”, diz. 

Além disso, a profissional pontua a necessidade de encarar a pandemia como algo passageiro que deixará muitos aprendizados. “Precisamos nos questionar o que de bom poderá ser tirado de todo esse cenário e respeitar nossos sentimentos sem nos compararmos com os outros, pois está tudo bem não ficar bem o tempo todo. ”


Por Gabrielle Colturato

A matéria em questão foi redigida para a disciplina de Jornal Laboratório, do 4º semestre do curso de Comunicação Social - Jornalismo.

sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Resenha: A Revolução dos Bichos


George Orwell é o pseudônimo utilizado pelo escritor, jornalista e ensaísta político britânico Eric Arthur Blair. Devido às inúmeras circunstâncias adversas que vivenciou, Orwell decidiu compartilhar suas aflições por meio de obras perspicazes que influenciam, até os dias de hoje, a cultura contemporânea, sendo considerados clássicos da literatura. Entre suas publicações mais famosas estão 1984 e A Revolução dos Bichos.

Lançada em 1945, após ser rejeitada por inúmeros editores, A Revolução dos Bichos é uma novela que reúne a essência das fábulas clássicas ao escárnio das críticas políticas. Por meio de analogias, o autor expressa sua visão acerca dos embates políticos e ideológicos que se desenrolavam no cenário mundial na época em que a escreveu, mais propriamente na antiga URSS (União das Repúblicas Socialistas Soviéticas).

Neste livro, a história é contada por meio da perspectiva dos animais que residem na Granja do Solar. Influenciados pelos discursos otimistas de Major, um porco velho e barbudo, cheio de ideias, eles coordenam uma revolução que tem por objetivo a ruína dos homens (seres humanos) e, consequentemente, o fim da exploração animal.

Agindo sorrateiramente pelas costas do Sr. Jones, o dono da Granja do Solar, os personagens conquistam a tão almejada liberdade, que veio muito antes do que eles imaginavam. Após expulsarem todos os humanos que ali moravam, os animais tomam posse do local que passa a ser conhecido, em todo o condado, por Granja dos Bichos.

Liderados pelos porcos, os demais animais se adaptam a essa nova e fascinante realidade, incapazes de acreditar que foram agraciados com tamanha sorte. Norteados pelos Sete Mandamentos, os personagens embrenham-se nos afazeres da granja e uma rotina colaborativa é instaurada, visando a distribuição igualitária de serviços e alimentos para todos.

Entretanto, não é necessário ser um especialista em História para concluir que nem toda glória perdura. Conforme os meses avançam, inúmeras situações conflituosas começam a se desenrolar causando uma cisão opinativa entre os animais.

A Revolução dos Bichos é uma obra política atemporal que se enquadra em diversos momentos históricos marcantes. O livro aborda com sagacidade a maneira como o poder excessivo é corruptivo e que aqueles que o detém são capazes de fazer atrocidades inimagináveis com qualquer um a sua volta quando sua posição de autoridade é abalada. Além disso, o autor aborda as incontáveis situações abusivas que a ingenuidade é capaz de propagar e o quão difícil pode ser dar um fim a tais circunstâncias, mesmo quando se tem ciência delas.

Após me deleitar (e me estressar muito) com o enredo desta obra, sou capaz de entender os motivos pelos quais ela é considerada um clássico de leitura obrigatória.


Escrita por Gabrielle Colturato

quarta-feira, 26 de agosto de 2020

Quimera

Nas memórias guardadas
Nas palavras faladas
Nas histórias contadas
Nas músicas cantadas

Nos momentos desfrutados
Nos sorrisos partilhados
Nos olhares trocados
Nos conselhos dados

Num pesqueiro ou no Apiário
Em casa ou no trabalho
Na camisa xadrez ou nos casacos usados
Na dificuldade ou nos sonhos alcançados

Em cada canto desta vida
Encontro você
Cada experiência vivida
Dedico a você

Quimera a minha te reencontrar
Pra poder, novamente, nos seus braços estar
Colérica, me vejo a chorar
Aguardando, ansiosa, essa dor dissipar

Presente, ternura
Ausente, tortura
Saudade, machuca
Fico assim, mixuruca


Gabrielle Colturato 

domingo, 2 de agosto de 2020

Resenha: No Seu Olhar


Se você gosta de romances melosos em que um casal se apaixona perdidamente e vive experiências magníficas em uma cidade litorânea, muito provavelmente você já leu alguma das obras de Nicholas Sparks, um escritor, roteirista e produtor estadunidense. O autor possui vinte livros publicados e onze deles já receberam adaptações cinematográficas. Sparks é aclamado por seus best-sellers envolventes que cultivam no leitor o desejo de viver uma história de amor.

Apesar de possuir os mesmos padrões vistos nos demais livros do autor, No Seu Olhar traz um ar de mistério pouco explorado anteriormente. O romance se passa em Wilmington, Carolina do Norte, e conta a história de Maria Sanchez e de Colin Hancock: duas pessoas que se conhecem de forma inesperada devido às intempéries do destino (afinal, não poderia ser diferente, né?).

Desde o início, os personagens são apresentados de modo a enfatizar o quanto são o oposto um do outro. Maria é filha de imigrantes mexicanos e se formou na escola de direito com o intuito de tornar-se uma advogada bem-sucedida, além disso é muito ligada aos seus familiares e está sempre preocupada em progredir na vida. Colin, por sua vez, é um universitário e lutador de MMA tentando, a todo custo, controlar seus nervos afim de deixar seu passado para trás e não acabar na cadeia.

Com tantas diferenças entre os dois, eles jamais imaginariam que pudessem se envolver e se apaixonar. Contudo, conforme se conhecem mais profundamente, Maria e Colin são tomados por sentimentos profundos um pelo outro e o inevitável acontece. Afinal, estamos falando de um livro do Nicholas Sparks, né? Então o amor sempre acontece, por mais improvável que possa parecer.

Entretanto, nem tudo são flores em No Seu Olhar... Na verdade, é a partir de um buquê de rosas que os problemas começam a se desenrolar na história e o que parecia ser um lindo romance sobre um casal inusitado transforma-se em uma sequência de acontecimentos perturbadores.

Apesar de se demorar demasiadamente para desenvolver o início da história, o autor apresenta uma sucessão de fatos incitantes na segunda metade do livro, de modo a prender o leitor e levá-lo à loucura. Além disso, Sparks explora novos elementos e os insere com destreza no decorrer da narrativa, tornando a obra um tanto quanto surpreendente.

No Seu Olhar nos mostra que as aparências enganam e que atitudes estimáveis podem vir de onde menos esperamos. Mais do que isso, esse romance nos ensina que as questões mal resolvidas do nosso passado podem (e vão) nos atormentar muito tempo depois de terem ocorrido.

P.S.: Mesmo sendo um romance com cenas super fofas, certos trechos do livro podem desencadear paranoias e gatilhos no leitor.


Escrita por Gabrielle Colturato

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Resenha: Pequenos Incêndios Por Toda Parte


Existem obras que nos fisgam por suas capas bem elaboradas, outras pela sinopse. Algumas nos arrebatam por seus títulos e existem aquelas que são, meramente, uma indicação de um amigo ou de um website. Independentemente do que seja, sempre existe algo que nos leva a ler uma história.

O motivo pelo qual decidi ler o segundo romance da autora americana Celeste Ng foi, além de sua sinopse, a perspectiva de me deparar com uma trama peculiar que instigasse a minha curiosidade tanto quanto o resumo já havia feito.

Pequenos Incêndios Por Toda Parte se passa na cidadezinha de Shaker Heights, um local repleto de regras rígidas que norteiam a vida de todos os moradores. Nela, as aparências valem mais do que tudo e a Família Richardson entende muito bem disso.

Elena Richardson é uma típica mulher de classe média alta proveniente de uma família tradicional de Shaker Heights, local em que nasceu, cresceu e para onde retornou após concluir a faculdade. Casada com Bill Richardson, repórter sênior no jornal Sun Press e mãe de quatro adolescentes (Lexie, Trip, Moody e Izzy), ela é capaz de fazer o que for necessário para manter as coisas em seus devidos lugares.

Mia Warren, por sua vez, é o completo oposto da Sra. Richardson. Uma artista de espirito livre que nunca viveu a mercê das regras sociais e que, junto à sua filha, Pearl, viaja como uma nômade sem permanecer mais do que seis meses em uma única cidade... até chegar a Shaker Heights.

Quando chegam nessa cidadezinha fabricada, Mia e Pearl acabam alugando o apartamento que pertence a Elena e, a partir disso, o que deveria ser meramente uma relação de inquilino e proprietário se transforma em algo mais quando os filhos da família Richardson se encantam com a peculiaridade das novas moradoras.

Conforme as famílias se aproximam e passam a se conhecer mais intimamente, diversas situações cotidianas são apresentadas. Entretanto, apesar de estas serem semelhantes a fatos presentes na vida do leitor, muitas delas possuem um aspecto plastificado que dificultam a identificação com os personagens.

Além disso, no decorrer do romance, a trama é apresentada de forma não linear: os acontecimentos são descritos de maneira desordenada, misturando perspectiva de vários personagens em um único capítulo e trazendo fatos do passado e do presente embaralhados, dificultando a compreensão do enredo e da história central.

Apesar de o livro trazer protagonistas femininas marcantes e abordar temáticas relevantes como abandono familiar e aborto, a maneira como estas foram desenvolvidas dificultou a imersão na obra. Sem contar que os acontecimentos demoram demasiadamente para serem desenvolvidos, tornando a leitura um tanto quanto maçante.

Entretanto, mesmo com todos estes fatores que atrapalharam minha experiência com a obra, acredito que Pequenos Incêndios Por Toda Parte possui algo especial em seu enredo (mas que me faltou feeling para identificar e compreender) que atrai a atenção de leitores e espectadores, afinal, o romance não deve ter se tornado uma série de streaming e ganhado tanta repercussão à toa.


Escrita por Gabrielle Colturato

quarta-feira, 24 de junho de 2020

Resenha: Seis Anos Depois


Se você é um apreciador de tramas repletas de suspense e mistério, mas ainda não leu nenhum romance de Harlan Coben, venho lhe informar que está perdendo a oportunidade de se deleitar com obras primorosas.

Aclamado pela mídia e conhecido como “o mestre das noites em claro”, Coben é um dos autores americanos mais renomados no gênero: considerado o número 1 do New York Times e vencedor dos três principais prêmios da literatura policial americana*. Seus livros já foram traduzidos para 43 idiomas e totalizam mais de 70 milhões de exemplares impressos em todo o mundo.

Dentre as obras publicadas**, está Seis Anos Depois. Neste romance, conhecemos Jacob Fisher, um professor universitário do Lanford College que se recolheu em um retiro para escritores, em Vermont, com o intuito de redigir sua dissertação sobre Estado de Direito. Próximo dali, estava a Colônia de Renovação Criativa, um retiro artístico muito diferente daquele destinado aos escritores.

Certa noite, os participantes de ambos os retiros se reuniram a fim de dividir seus trabalhos. Nesta ocasião, Jake conhece Natalie Avery, uma talentosa pintora, por quem se apaixonou instantaneamente. Durante os meses no retiro, os dois aproveitaram o tempo um ao lado do outro: visitando cafés, restaurantes e outros lugares.

Tudo parecia perfeito entre eles, até Natalie lhe enviar um bilhete informando que, em breve, se casaria com Todd, seu ex-namorado. Apesar de não compreender os motivos que levaram ao rompimento, Jake decide ir ao casamento a fim de obter respostas, mas a única coisa que consegue é um pedido para que ele nunca mais os procure.

Durante seis anos, ele consegue manter sua promessa permanecendo distante da única mulher que amou, mas ao se deparar com o obituário de Todd Sanderson, o homem com quem Natalie se casou, Jake sente-se incapaz de não ir atrás de sua amada.

Quando passa a procurá-la, suas buscas não o levam a lugar algum. Com isso, Fisher desconfia ainda mais do sumiço repentino de Natalie. Intrigado com tantos mistérios acerca do caso, ele se mete em todo o tipo de confusão para descobrir algo que lhe ajude a reencontrar aquela mulher.

Conforme a história de desenvolve, inúmeras informações são reveladas sem que a situação chegue a um desfecho. Seis Anos Depois é um romance intenso e de tirar o fôlego, que escancara ao leitor que, nem sempre, conhecemos verdadeiramente aqueles que mais amamos.

Harlan Coben nos traz, mais uma vez, uma trama envolvente, cheia de percalços, mas muito bem construída.


Escrita por Gabrielle Colturato



*: Harlan Coben foi o primeiro escritor a receber os prêmios Anthony Award, Shamus Award e Edgar Allan Poe.
**: Coben já lançou, ao todo, trinta e dois livros desde sua estreia, em 1990. Suas obras mais conhecidas são a renomada série literária de Myron Bolitar e Mickey Bolitar e os romances independentes Não Conte a Ninguém, que recebeu uma adaptação cinematográfica francesa em 2006; Não Fale com Estranhos, transformado em uma série pela Netflix; Não Há Segunda Chance e Apenas Um Olhar, que também foram adaptados para minisséries; entre outros.

sexta-feira, 19 de junho de 2020

Resenha: A Garota do Lago



Em seu romance de estreia, o autor estadunidense Charlie Donlea releva seu talento para o gênero de ficção policial e mostra a que veio. Publicado no Brasil em 2016 pela Faro Editorial, o livro A Garota do Lago leva o leitor para Summit Lake, uma cidadezinha nas montanhas Blue Ridge caracterizada por sua beleza e tranquilidade, mas que acabou se tornando o cenário de um crime brutal.

Becca Eckersley era uma jovem de beleza estonteante que atraia, facilmente, a atenção daqueles que a cercavam. Sua vida era (quase) perfeita: vinda de uma família com posses, estudante de direito com uma posição garantida no escritório do pai, um renomado advogado. Ela não poderia esperar menos que um futuro promissor para si, mas seus sonhos foram interrompidos quando ela decidiu se isolar, por um final de semana, na palafita de sua família.

Em Miami, Kelsey Castle lida com seus próprios traumas. Quando decide retornar à redação da revista Events, após um mês de licença, seu chefe, Penn Courtney, lhe envia para Summit Lake a fim de investigar o assassinato de Becca Eckersley.

No decorrer do livro, o autor constrói a narrativa alternando eventos do passado e do presente, conectando as protagonistas. Ao mesmo tempo que uma sucessão de acontecimentos marca os últimos catorze meses da vida de Becca, Kelsey desvenda os segredos que abrangem o caso com a ajuda das pessoas que cruzaram o seu caminho durante sua estadia na cidade.

Além disso, conforme a história se desenrola, o leitor se depara com inúmeras reviravoltas que são reveladas de forma bombástica ao final de cada uma das quatro partes que constituem a obra, deixando a gostosa sensação de que a cada momento um novo segredo poderá ser revelado.

A Garota do Lago é um romance policial estarrecedor e surpreendente, com um enredo sólido e intrigante que desperta o interesse do leitor a cada página, só sendo possível largá-lo ao chegar na última.



Escrito por Gabrielle Colturato

segunda-feira, 15 de junho de 2020

Resenha: Palavras em Azul Profundo


Escrever uma resenha já é, por si só, uma tarefa difícil. Afinal, ao fazê-lo, estamos analisando aquilo que pode ser a coisa mais importante na vida de uma pessoa. Entretanto, existem obras que elevam essa missão a níveis desafiadores, tamanha sua magnificência. Palavras em Azul Profundo é uma delas.

Escrito pela autora australiana Cath Crowley e publicado em 2019 pela editora Plataforma 21, o romance é desenvolvido por meio da perspectiva de Rachel Sweetie e Henry Jones, dois jovens que cresceram em Gracetown e, desde sempre, foram melhores amigos. Entretanto, a amizade dos dois é abalada quando ela se muda para Sea Ridge para morar com sua avó e deixa de responder as cartas enviadas por ele.

Três anos se passam até que Rachel retorna à cidade com o intuito de se distanciar do mar e esquecer tudo que passou nos últimos dez meses devido a morte de seu irmão, Cal. Porém isso não será tão simples quando ela imaginava que seria.

Quando chega em Gracetown, sua tia Rose não lhe dá outra opção além de superar sua perda e seguir em frente. Com isso, Rachel é obrigada a trabalhar no sebo da família do seu ex-melhor amigo e, por consequência, encarar o seu passado e as pessoas que deixou para trás.

Henry, por sua vez, enfrenta mais um de seus términos com Amy, esperando o momento em que ela voltará para ele como sempre faz. Além disso, ele tem em suas mãos a palavra final quanto ao futuro do sebo de sua família. Quando descobre que Rachel, com quem não fala há três anos, regressou à cidade e trabalhará com ele na Howling Books seu mundo sai ainda mais dos eixos.

No sebo, Rachel é incumbida de catalogar todos os livros da Biblioteca de Cartas, uma seção da Howling Books em que os clientes podem circular palavras que amam, sublinhar frases, fazer anotações nas margens, deixar ideias sobre o significado das coisas ou cartas para desconhecidos.

Toda a trama de Palavras em Azul Profundo, bem como a vida e a amizade de Rachel e Henry, se desdobra em torno da Biblioteca de Cartas, um lugar mágico que encanta qualquer um que seja apaixonado por livros. Bem, pensando melhor, pode ser que alguns leitores se incomodem com a ideia de tantos livros rabiscados, mas a forma como isso é explorado no romance é realmente fascinante, já que as obras literárias se tornam um meio de conexão entre pessoas.

A forma como a autora explora grandes livros da literatura clássica e atual é cativante e aquece o coração do leitor. Além disso, o romance carrega ensinamentos sublimes sobre perda, amor, amizade, superação e recomeços e traz uma mensagem tocante sobre o poder das palavras. A combinação desses elementos enriquece a história e a torna mais intimista, facilitando o envolvimento com as situações enfrentadas pelos personagens no decorrer do enredo.

Palavras em Azul Profundo foi um livro que me tocou profundamente por cada uma de suas particularidades, mas obviamente por falar sobre o que mais amo nessa vida: livros!


Escrita por Gabrielle Colturato
Participação de Katharina Martins

domingo, 7 de junho de 2020

Resenha: Uma Casa no Fundo de Um Lago


Josh Malerman é um contista e romancista americano que ficou conhecido na esfera literária após a repercussão de seu livro de estreia, Caixa de Pássaros, publicado em 2014 pela Ecco Press (editora HarperCollins) e em 2015 pela editora Intrínseca.

Desde então, Josh publicou inúmeros contos e outros dez romances (de acordo com o Wikipédia). Entre eles está o livro Uma Casa no Fundo de Um Lago, publicado no Brasil em 2016 também pela editora Intrínseca.

No início deste romance, o leitor é transportado para o primeiro encontro de Amelia e James. Entretanto, o que parecia ser um simples passeio de canoa transforma-se em uma sequência de descobertas quando os dois encontram um lago desconhecido. Além disso, ao explorarem esse novo lago, o casal se depara com algo ainda mais inusitado: o telhado de uma casa.

A partir disto, Amelia e James sentem-se fascinados pela existência de uma casa no fundo de um lago e passam a visitá-la constantemente. Conforme os adolescentes desvendam os cômodos da casa submersa descobrem que aquele local mágico é mais rodeado de mistérios do que eles são capazes de imaginar.

Apesar de possuir um nome instigante, Uma Casa no Fundo de Um Lago não entrega nada de incrível ao leitor. Tendo em vista que a história transcorre de forma repetitiva e sem grandes acontecimentos por, pelo menos, 120 páginas, o título da obra se torna o maior spoiler que um leitor poderia receber sobre o romance.

Os elementos gráficos da capa e a sinopse do livro vendem uma aura de suspense que, na verdade, não existe. As passagens não são envolventes ao ponto de incentivar a leitura, tornando a obra ainda mais decepcionante. Os capítulos apenas apresentam mais do mesmo: a Amelia e o James mergulhando no terceiro lago para adentrar a casa submersa e buscando meios de conectarem-se ainda mais com ela. O desenrolar da história é desanimador e o livro termina de uma forma incompreensível, oferecendo pouco crédito ao restante da trama.

Se os demais livros de Josh Malerman valem mais a pena do que este, vocês terão de descobrir sozinhos, pois a experiência com Uma Casa no Fundo de Um Lago me desestimulou a ler qualquer outra obra deste autor.


Escrita por Gabrielle Colturato

quarta-feira, 27 de maio de 2020

Resenha: O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram


Minha história com O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram começou em 2018, na 25ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, quando me deparei com seu título inusitado na pilha dos livros que custavam R$10. Na época, eu trabalhava como Jovem Aprendiz recebendo um salário ínfimo de modo que qualquer obra literária que custasse um valor simbólico interessava-me muito mais se comparada as com valores mais altos.

Infelizmente, depois de adquiri-lo, cometi o erro de abandoná-lo na minha estante e dar pouquíssima atenção a ele. Até que mais recentemente, em meio a dúvida sobre qual livro começaria a ler, me deparei com ele e, mais uma vez, me senti instigada por seu título que desencadeou uma curiosidade repentina e avassaladora em mim.

Foi então que decidi seguir nessa empreitada e ler O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram, um romance LGBT escrito pela autora brasileira Ana Luiza Savioli e publicado pela Hoo Editora em 2016.

A trama começa com Harry Darwin, um bolsista de polo aquático no colégio St. Raphael, sendo resgatado no Lago dos Padres por um completo desconhecido. Quando acorda em sua cama, na manhã seguinte, ele não se lembra de nada. O que estava fazendo no lago? Quem o resgatou? Como veio parar em seu quarto? Todas essas dúvidas enchem a cabeça do garoto.

Naquele mesmo dia, o colégio recebe a notícia de que Damon Knight, um aluno que há dois anos desapareceu sem deixar vestígios, foi encontrado morto próximo ao lago. No velório, Harry têm um lapso de memória ao se deparar com o corpo do jovem e descobre que foi ele quem o salvou no lago, na tarde do dia anterior, deixando-o ainda mais confuso.

Quando Matthew Knight chega à escola ocupando o quarto que era de seu irmão, Harry busca maneiras de aproximar-se do garoto a fim de entender os motivos que levaram Damon a salvá-lo e, em seguida, suicidar-se. Entretanto, descobre que os mistérios que rodeiam os Knight são muito mais profundos do que imaginava.

Ao mesmo tempo que Darwin começa a compreender certos acontecimentos estranhos que se desenrolam na escola, novas incógnitas surgem e Matthew não parece disposto a ajuda-lo a resolvê-las.

Apesar de possuir passagens confusas devido complexidades temporais, a autora explora destes artifícios com magnificência e desenvolve um enredo sólido que permite a imersão do leitor e facilita a identificação com os personagens. Tudo isso faz com que o livro se torne mais fascinante a cada capítulo ao ponto de ser impossível largá-lo.

O Livro das Coisas que Nunca Aconteceram é uma obra sobre o tempo, sobre amores e amizades e, também, sobre sacrifícios. Seu final é surpreendente e dá sentido à história como um todo. Não se assuste se, nos capítulos finais, sentir-se o gif mind blown em pessoa, pois foi exatamente dessa forma que me senti.


Escrita por Gabrielle Colturato



Gif Mind Blown by Giphy


quinta-feira, 14 de maio de 2020

Resenha: A Realidade de Madhu


Encontrar livros nacionais que chamem a atenção não é uma tarefa fácil para muitos leitores, principalmente se pretende fugir dos clássicos literários obrigatórios para vestibulares. Se você busca um livro diferenciado e fora da caixinha, A Realidade de Madhu é a obra certa.

Escrito pela autora brasileira Melissa Tobias e publicado no ano de 2014 pela Editora Novo Século, o romance de ficção científica foi reimpresso após se popularizar nas redes sociais seis anos depois de seu lançamento. A menção de uma pandemia viral, no ano de 2020, responsável pela morte de bilhões de terráqueos causou espanto e tumulto entre os internautas por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus que, desde janeiro, já totalizou mais de 280 mil mortes.

A história reúne referências de diversas esferas do conhecimento e traz à tona princípios cristãos, budistas e hindus mesclados a características da cultura indiana e a aspectos holísticos que resultam em uma mistura um tanto quanto peculiar. Além disso, para aqueles que são fãs, é possível reparar uma sútil alusão a franquia estadunidense Star Wars. (Ou será que estou louca?)

O enredo se desenrola sob a perspectiva da jovem Madhu, uma garota de 19 anos, estudante de Arquitetura na Universidade Bela Artes, que mora com sua família em uma chácara na cidade paulistana de São Roque. Um dia, ela acorda a bordo da nave intergaláctica Shandi33 sem se lembrar de quase nada antes de sua abdução.

Confusa, Madhu se vê desamparada em meio a androides e híbridos que menosprezam sua origem terráquea. E como se estar longe de casa já não fosse o suficiente, ela é incumbida de “salvar a raça humana terráquea da grande destruição planetária”.

Madhu é uma Semente Estelar e está destinada a uma missão que transformará toda a Via Láctea. Só ela é capaz de despertar a Kundalini da Terra e semear a Terceira Realidade. Só Madhu conseguirá expandir essa Nova Realidade para todos os multiversos.

A Realidade de Madhu traz em sua trama uma proposta interessantíssima: um novo Universo consolidado por meio do amor. Entretanto, apesar de ser um romance de fácil leitura, existem brechas no livro que confundem o leitor e o fazem retornar algumas páginas como garantia de que nada foi esquecido.

A autora combinou elementos dispares com muita maestria, ao ponto de estes se complementarem, mas pecou no desenvolvimento das inúmeras ideias que teve para sua personagem. É notória a tentativa de reunir muitos acontecimentos marcantes em trechos curtos. No decorrer da leitura é possível perceber que o enredo se estende demasiadamente em cenas que não contribuem para a construção da história e acelera em momentos que, se bem elaborados, causariam maior impacto no leitor.

Além disso, nota-se o emprego exacerbado de adjetivos que parecem ser utilizados para compensar a falta de desenvolvimento dos acontecimentos ou suprir lacunas que sequer existem. A autora busca detalhar objetos, personagens e ambientes, mas não consegue descrevê-los sem qualificá-los.

Embora haja entraves narrativos no decorrer do livro, sua contribuição para a literatura e para a ficção científica brasileira é inegável!


Escrita por Gabrielle Colturato

terça-feira, 5 de maio de 2020

Resenha: Mulheres Sem Nome



Mulheres Sem Nome é o romance de estreia da escritora estadunidense Martha Hall Kelly. Publicado originalmente em abril de 2016 pela editora nova-iorquina Ballantine Books e em Novembro de 2017, no Brasil, pela Editora Intrínseca, Mulheres Sem Nome foi indicado ao prêmio Goodreads Choice Awards por Melhor Ficção Histórica em seu ano de estreia.

A história de Mulheres Sem Nome é contada a partir da perspectiva de três mulheres distintas que moram, cada qual, em um lugar do mundo.

Caroline Ferriday é uma socialite nova-iorquina e ex-atriz da Broadway que se dedica fervorosamente ao seu trabalho voluntário no Consulado Francês recepcionando estrangeiros recém-chegados aos Estados Unidos. Além disso, ela destina seu tempo livre promovendo eventos de caridade que a possibilitam angariar fundos para enviar cestas básicas a diversos órfãos na França. 

Kasia Kuzmerick, por sua vez, é uma adolescente polonesa de descendência alemã que vive com seus pais e sua irmã Zuzanna na cidade de Lublin, localizada no leste da Polônia. Com a invasão de Hitler a Polônia, em 1939, Kasia vê sua vida e a de sua família virar aos avessos quando soldados da SS batem à sua porta à procura de seu pai, responsável pela agência central de correios da cidade. Tomada por um latente inconformismo, ela torna-se mensageira da resistência na esperança de ser útil ao país em meio à guerra. Entretanto, as consequências desta decisão são irreversíveis.

Herta Oberheuser é uma alemã recém-formada em medicina que vê seu sonho de se tornar cirurgiã ir por água abaixo em meio a uma Alemanha nazista em que mulheres devem prover e criar seus filhos arianos. Guiada por seus propósitos, Herta aceita uma vaga do governo e torna-se médica no campo de reeducação para mulheres de Ravensbrück, situado no município de Fürstenberg.

Nenhuma destas mulheres imaginavam que a Segunda Grande Guerra que implodia e se alastrava pela Europa mudaria, por completo, suas vidas. Por meio da narração destas três mulheres, Martha Hall Kelly guia o leitor por uma história envolvente e arrebatadora que o surpreende do início ao fim.

Dividido em capítulos instigantes que incentivam a continuidade da leitura, Mulheres Sem Nome é um livro bem construído que surgiu a partir de pesquisas profundas sobre fatos reais que assolaram a humanidade. Um livro de ficção histórica que comove e nos faz repensar as atrocidades causadas pelos seres humanos no decorrer da história do mundo.


Escrita por Gabrielle Colturato

quarta-feira, 4 de março de 2020

Rivalidade Profissional: ela existe ou foi construída?

Veículo Possível: Você S/A, em uma edição sobre profissões

Na literatura, muitos escritores e estudiosos dividem-se quanto à atuação dos jornalistas e dos assessores de imprensa. Com isto, surgem alguns dilemas sobre o que é de responsabilidade de quem.

Considerando os diversos discursos existentes, pode-se entendes que ambos exercem atividades semelhantes, porém em âmbitos distintos e com objetivos contrários. De acordo com os conteúdos apresentados, é notório que um assessor de imprensa preocupa-se com os assuntos ligados à esfera privada, e com a imagem que esta tem para o público. Ou seja, o assessor de imprensa tem como enfoque cuidar da imagem que a instituição para a qual trabalha tem publicamente. Em contraponto, o jornalismo visa defender a verdade, independente de quem se beneficie com isto.

A grande verdade é que, apesar de atuarem em frentes dispares, é inevitável que ambas as profissões se choquem no meio do caminho. Afinal, o fato de apresentarem diferenças não anulam as semelhanças que, muitas vezes, confundem os desavisados.

É importante compreender que cada qual possui relevância no contexto em que estão inseridas, e que compara-las pelo simples deleite de chegar-se a um conceito absoluto seria desmerecer os feitos obtidos por ambas as profissões no decorrer de suas existências.

No fim das contas, os dilemas só existem, pois sempre haverá uma nova percepção a ser estudada.


Artigo escrito por Gabrielle Colturato em 17 de Fevereiro de 2020.


Obs.: Este artigo foi produzido para a aula de Assessoria de Imprensa em que foi discutida as atribuições profissionais do Assessor de Imprensa e do Jornalista e se estas profissões podem ou não ser consideradas semelhantes. Em sala foi apresentado diversos argumentos de estudiosos e profissionais de ambas as áreas. A atividade tinha como intuito defendermos a ideia que mais parecesse correta para nós, por meio da argumentação.


quinta-feira, 20 de fevereiro de 2020

Trovoada

Quando ela desabou, sem ninguém pra lhe consolar,
A tempestade pediu licença pra se retirar
Permitindo, com gentileza, que ela expulsasse
Os sentimentos que tentou o dia inteiro ignorar.

Foi a janela do transporte público que presenciou
Todas as lágrimas que ela segurou
E que finalmente caiam despreocupadas.

Enquanto a chuva cessava lá fora,
Ela desabava por dentro, sem demora.

Foi na fila do busão que seu nó preso a garganta se desfez.
E pensando aqui, comigo mesmo
É um absurdo que uma garota daquelas
Tenha como seu melhor amigo, o coletivo.

Mas vejam bem, meus caríssimos
Ainda bem que naquele dia ela estava antissocial
Pois a grande sorte é que, apesar dos empecilhos,
Ela foi forte e não decidiu conversar com os trilhos.


Gabrielle Colturato

quarta-feira, 19 de fevereiro de 2020

Sorria e Acene

Hoje não é dia de sorte.
Então, por obrigação, seja forte!
Se não por você, pelos outros,
Ou deseja se tornar só mais um estorvo?

Engole o choro, pra ninguém perceber
Se possível, sorria. Finja vencer!
"Mas por que a cara feia?"
Conseguirá responder?

Sua primeira falha foi se levantar,
No restante do dia,
Apenas encontrou outras formas de errar.
E lamento dizer,
Não terá chances pra consertar.

Não adianta pedir pro dia acabar,
Quanto mais implorar, mais longo será.
E aí? O quanto você pagaria
Pra essa vida de cão terminar?


Gabrielle Colturato