quinta-feira, 14 de maio de 2020

Resenha: A Realidade de Madhu


Encontrar livros nacionais que chamem a atenção não é uma tarefa fácil para muitos leitores, principalmente se pretende fugir dos clássicos literários obrigatórios para vestibulares. Se você busca um livro diferenciado e fora da caixinha, A Realidade de Madhu é a obra certa.

Escrito pela autora brasileira Melissa Tobias e publicado no ano de 2014 pela Editora Novo Século, o romance de ficção científica foi reimpresso após se popularizar nas redes sociais seis anos depois de seu lançamento. A menção de uma pandemia viral, no ano de 2020, responsável pela morte de bilhões de terráqueos causou espanto e tumulto entre os internautas por conta da pandemia causada pelo novo coronavírus que, desde janeiro, já totalizou mais de 280 mil mortes.

A história reúne referências de diversas esferas do conhecimento e traz à tona princípios cristãos, budistas e hindus mesclados a características da cultura indiana e a aspectos holísticos que resultam em uma mistura um tanto quanto peculiar. Além disso, para aqueles que são fãs, é possível reparar uma sútil alusão a franquia estadunidense Star Wars. (Ou será que estou louca?)

O enredo se desenrola sob a perspectiva da jovem Madhu, uma garota de 19 anos, estudante de Arquitetura na Universidade Bela Artes, que mora com sua família em uma chácara na cidade paulistana de São Roque. Um dia, ela acorda a bordo da nave intergaláctica Shandi33 sem se lembrar de quase nada antes de sua abdução.

Confusa, Madhu se vê desamparada em meio a androides e híbridos que menosprezam sua origem terráquea. E como se estar longe de casa já não fosse o suficiente, ela é incumbida de “salvar a raça humana terráquea da grande destruição planetária”.

Madhu é uma Semente Estelar e está destinada a uma missão que transformará toda a Via Láctea. Só ela é capaz de despertar a Kundalini da Terra e semear a Terceira Realidade. Só Madhu conseguirá expandir essa Nova Realidade para todos os multiversos.

A Realidade de Madhu traz em sua trama uma proposta interessantíssima: um novo Universo consolidado por meio do amor. Entretanto, apesar de ser um romance de fácil leitura, existem brechas no livro que confundem o leitor e o fazem retornar algumas páginas como garantia de que nada foi esquecido.

A autora combinou elementos dispares com muita maestria, ao ponto de estes se complementarem, mas pecou no desenvolvimento das inúmeras ideias que teve para sua personagem. É notória a tentativa de reunir muitos acontecimentos marcantes em trechos curtos. No decorrer da leitura é possível perceber que o enredo se estende demasiadamente em cenas que não contribuem para a construção da história e acelera em momentos que, se bem elaborados, causariam maior impacto no leitor.

Além disso, nota-se o emprego exacerbado de adjetivos que parecem ser utilizados para compensar a falta de desenvolvimento dos acontecimentos ou suprir lacunas que sequer existem. A autora busca detalhar objetos, personagens e ambientes, mas não consegue descrevê-los sem qualificá-los.

Embora haja entraves narrativos no decorrer do livro, sua contribuição para a literatura e para a ficção científica brasileira é inegável!


Escrita por Gabrielle Colturato

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