sexta-feira, 11 de agosto de 2023

Autobiografia: Um Perfil de Mim Mesma

Gabrielle Cristina Rodrigues Colturato. Gabrielle Colturato. Gabri. Gable. Gabby Gabby. Gaby’z. Gabi. Gabsboo (ou Gaboobs). Gabs. Gab (apenas, ou Gab+).  Bibi. Bi. Oguito. Biscoitinho (apenas, mas também do Mal). Pipoquinha. Tchubiruba. Xuxuzinha. Fofuxa. Fofoletinha. Quantusratus. Bolinho de Arroz. Mozão. Vida. E, mais recentemente, Chocolate Branco. Filha. Irmã. Neta. Amiga. Namorada. Noiva. Aluna. Funcionária. Mulher. Se, pra cada um a minha volta, sou uma versão distinta de mim. Quem sou de verdade?

A resposta a esta pergunta não é simples, tampouco estou perto de tê-la por completo. Mas antes de entrarmos em filosofias de vida sobre “Quem sou? De onde vim? Para onde vou? Pra quê sirvo”, precisamos rebobinar esta fita aos primórdios da minha vida.

Pois bem, comecemos do início. Tudo começou quando eu nasci (dã, óbvio). Em 03 de junho de 1999, às 14h30m, em pleno feriado de Corpus Christi (o nome Cristina veio daí, reaproveitando o da minha mãe. Obrigada pai, só que não). Parto normal com fórceps. 3,750 kg e 51cm: a aeromoça da maternidade, de acordo com minha avó. A questão é: como deixei de ser aquele bebê topetudo e me transformei nisto que sou hoje? Acredite ou não, a resposta não é “Crescendo!”, afinal, de lá pra cá, só foram 1,08 m de acréscimo aos já mencionados 51cm.

Cresci em uma família parcialmente unida, com referenciais fortes. Criada quase que totalmente pelos meus avôs paternos. Ingressei na vida acadêmica com apenas três aninhos, depois de apurrinhar minha mãe para me matricular na pré escola. De lá para cá, minha relação com os estudos se estreitou até que me tornei a CDF que ia à escola nas férias e estava mais preocupada em adquirir novos conhecimentos a fazer amizades.

Devido às dificuldades de socialização, que só se agravaram com os anos, acabei buscando refúgio nos lugares que aquecem meu coração até hoje: os livros e a escrita. Os primeiros livros foram devorados quando eu tinha pouco mais de seis anos. E se a paixão pelos estudos já havia sido grande, a pelos livros foi avassaladora ao ponto de pedi-los a cada data comemorativa em que fosse receber presentes. Com a escrita não foi diferente, com onze anos montei um blog, sozinha, para publicar meus devaneios juvenis em formato de textos.

Os anos se passaram e ao mesmo tempo que nada de grandioso aconteceu, tudo aconteceu. Precisei, desde cedo, me virar sozinha. E como qualquer outra garota eu me apaixonei, e me iludi. Me machuquei, física e psicologicamente. Conheci pessoas as quais me aproximei, mas que logo me afastei. Fiz algumas amizades verdadeiras. Recitei minhas poesias em um Teatro lotado de gente e fui muito aplaudida. Ouvi conselhos incríveis do meu avô. Dei espaço para que o novo acontecesse. Passei por tratamento terapêutico, duas vezes. Quase me converti ao Budismo. Fiz dois cursos Técnicos. Ingressei no mercado de trabalho. Conheci o homem com o qual pretendo dividir minha vida e o pedi em casamento (e ele disse Sim!). Aprendi a andar de patins. Enchi meu corpo de tatuagens. Encantei-me, depois de anos, pela Disney e pelo Mickey Mouse. Descobri que gosto de RPG e boardgames. Aprendi a ser grata. Realizei alguns sonhos íntimos que carreguei comigo por muitos anos. Percebi que detesto coisas que sempre achei que gostaria, e amei coisas que sempre achei que odiaria. 

E, em meio a tudo isso, precisei me despedir da pessoa mais preciosa que já tive em minha vida, aquela que esteve ao meu lado em todos os momentos possíveis, que me apoiava em todas as minhas escolhas, que me conhecia melhor do que qualquer outra pessoa e que sabia quando eu estava triste só de me olhar, que comprava várias coisas gostosas para mim e, também, as melhores bananas nanicas, que me levava para pescar e sempre deixava eu recolher as varas, que sempre passava no Apiário Santo Antônio só para fazer minhas vontades, que me cobria quando eu dormia no sofá, mas que nunca tirava meu óculos do rosto para que eu conseguisse enxergar nos meus sonhos, que me xingava por não ir visitá-lo, mas que ficava todo serelepe quando eu tocava a campainha. A pessoa que recebeu várias dedicatórias em trabalhos acadêmicos e em minha pele. A pessoa que mais amo em toda a minha vidinha e que me faz uma falta danada: meu avô.

Com o tempo, fui me descobrindo como pessoa e aprendendo a respeitar meus gostos e minhas vontades e também a lidar com todas as intempéries que apareceram e continuam aparecendo. Permiti a mim mesma que tentasse ser eu, independente do que os outros pensassem. Acreditei na minha intuição e naquilo que fazia sentido para mim. Em essência, tudo continuou da mesma forma que  sempre foi: o fascínio pela educação só tomou forma conforme mestres exímios cruzavam meu caminho; o amor pelos livros expandiu-se até se tornar uma mini biblioteca com mais de quatrocentos exemplares adquiridos, porém nem todos lidos; e a escrita tornou-se meu alicerce nos momentos mais difíceis e levou-me, após muito receio, ao curso de Jornalismo.

Meus não longínquos vinte anos não foram, nem de longe, os mais formidáveis. Não vivenciei todas as experiências que gostaria e as que tive não possuem nenhuma magnificência. Não acumulei descobertas impressionantes. Tampouco descobri a cura para uma doença grave. Não realizei feitos que impactaram o mundo. E não busquei promover a paz mundial. Ninguém, além de mim mesma, expressará o desejo de escrever um livro sobre a minha vida, para torná-lo um best seller e, depois, adaptá-lo para o cinema. Sou apenas uma garota comum que impressiona pouquíssimas pessoas. Mas independente disso, reconheço que cada uma das minhas vivências tem um valor inestimável, porque, sem elas, eu não seria metade do que sou hoje (só fica a dúvida se isso é bom ou ruim).

E apesar de toda essa falação sem fim, ainda ficam alguns questionamentos em aberto. Dando espaço às reflexões filosóficas possíveis, que agora são cabíveis: Será que, de fato, tornei-me a pessoa que almejava ser? Se não, será que ao menos estou no caminho certo para isso? E será que realmente sei a pessoa que gostaria de me tornar?

No fim das contas eu sou só uma garotinha, ainda em transmutação, com um coração repleto de sonhos e com o desejo de transformar o mundo (se não ele inteiro, pelo menos o mundo individual de cada pessoa que conheço). Tenho pisado em ovos e quebrado alguns no decorrer do caminho para buscar meu lugar neste mundo tão caótico e hostil e me convencer de que viver vale a pena.


Gabrielle Colturato


"Eu não sei na verdade quem eu sou

Já tentei calcular o meu valor

Mas sempre encontro sorriso e o meu paraíso é onde estou

Por que a gente é desse jeito

Criando conceito pra tudo que restou?"

- Eu Não Sei Na Verdade Quem Eu Sou, O Teatro Mágico


Obs.: Esse texto foi produzido para a aula de Oficina de Redação do curso de Comunicação Social - Jornalismo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário