sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

Quase

Nossos corpos estavam rentes um ao outro, em uma conchinha confortável, de modo que uma centelha de vento sequer seria capaz de passar entre nós. Seu ronco retumbava ao pé do meu ouvido, anunciando que seu sono, enfim, o embalara. E sua mão tocava partes aleatórias do meu torso em espasmos involuntários, causando certo arrepio por todo o meu corpo.

Ao contrário do que seria de se esperar, após um dia longo, estressante e cansativo, tanto física quanto mentalmente falando, eu estava sem sono, dando espaço para um zilhão de pensamentos intrusivos que iam desde os mais inocentes até os mais depravados.

Naquele momento em que sua mão apalpou meu seio e tocou a pele descoberta da minha barriga, eu só conseguia pensar no quanto eu queria que acordasse, após um lapso de desejo e de tesão, e me tomasse pra si. 

Esses pensamentos maliciosos vinham tomando minha cabeça desde o momento que precisei levantar para ir ao banheiro e o encontrei por ali, de pau duro, possivelmente após ter batido uma punheta. Vê-lo guardando timidamente sua protuberância na samba canção e raspando-a, inevitavelmente, na pia enquanto lavava as mãos desencadeou uma sequência de desejos pecaminosos dentro de mim.

Ao voltar para cama, após esse encontro, usei minhas investidas habituais: deitei-me ao seu lado, aproximando-me aos poucos, acariciando suas costas, sua nuca e seu ombro, até o momento de pedir-lhe um beijo na intenção de termos qualquer interação. Você, como de costume, respondeu de forma resistente: primeiramente criticando meu modus operandi, mas por fim virando-se para me dar um beijo mesmo dizendo que não merecia recebê-lo.

Contudo, como não costumo desistir fácil, segui com minha abordagem, puxando assunto e aproximando meu corpo do seu. O grande problema daquela situação é que já passavam das 23 horas e você acordaria as 4 da manhã seguinte. Ou seja, as tais 8 horas de sono que fazia questão de ter já haviam sido perdidas e lutava, insistentemente, para pegar no sono e ter qualquer minuto a mais de descanso. O relógio não estava ao meu favor e, você, muito menos.

Em meio às minhas tentativas falhas e às suas negativas, consegui que me desse mais um beijo que, pro meu desprazer, foi logo interrompido com as palavras de ordem: "Pronto, acabou. Vira pra podermos dormir".

Obstinada em meus desejos, acatei seu pedido e virei-me de costas pra você. Arrumei meu travesseiro e pressionei meu corpo ao seu, roçando, de tempos em tempos, minha bunda contra sua pelve na intenção de provocá-lo. Entretanto, ainda que tenha elogiado minha comissão de costas, sequer notou minhas intenções ou, se o fez, não deixou transparecer.

Enquanto esfregava meu corpo ao seu com o intuito de desencadear um sexo repentino, igual aquele que fizemos no meio da noite, após um cochilo, alguns meses atrás, pensamentos conflitantes assumiam as rédeas na minha mente, instigando-me ao extremo ao mesmo tempo que me levava a conclusão que nada aconteceria dessa vez, que essa noite não teria o mesmo desfecho regozijante que outras noites já tiveram.

Restava-me então, a ilusória expectativa que, ao acordar, retribuiria minhas investidas, acordando-me com beijos e com toques sedentos. Mas nós dois sabemos sobre a impossibilidade desse cenário se concretizar, sabemos, também, que qualquer tesão reprimido que sinta será saciado no banho e, no meu caso, com minha varinha entre uma conversa e outra aberta no Telegram.


G. C.

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