sábado, 6 de abril de 2024

Empecilho no Caminho

 — Independentemente do que ela queira, ela sabe que existe esse empecilho no caminho! 

Empecilho no caminho...

Empecilho no caminho...

Empecilho no caminho...

Empecilho no caminho...

Empecilho no caminho...

Essas despretensiosas palavras continuam girando incessantemente na minha cabeça e, bom, não é por menos, visto que eu sou o "empecilho no caminho" ao qual ele se referia. Eu, minhas inseguranças, meus medos e todas as minhas questões internas mal resolvidas que me estagnam e me lançam em salto livre rumo a uma sequência de crises de ansiedade. Não só eu e toda a minha bagagem, mas também o nosso relacionamento e os acordos que estipulamos para vivenciar essa faceta "evoluída" e fora do padrão que, por incrível que pareça, só vigoram por sugestão minha.

Em meio às respirações entrecortadas, reflito sobre a capacidade humana de auto boicote, pois acho deveras interessante a forma como nossas próprias cabeças nos pregam peças e armam circos completos que nos levam diretamente ao fundo do poço. Falo isso com certa propriedade, pois enquanto tento "alinhar meus chacras" e me recompor sou, cada vez mais, assolada por pensamentos intrusivos que se intercalam àquelas palavras e as tornam mais verdadeiras e pesadas.

Enquanto a fala dele reverbera na minha cabeça e, até certo ponto, no meu coração, minha mente me transporta para aquele final de semana no meio de março, no qual não apenas a conheci, como vislumbrei algo que, de certo modo, eu já sabia. Os olhares trocados, os sorrisos bobos, os beijos escondidos, os toques, as palavras de carinho, os gostos similares, a química, a aura que emanava de um para o outro. Realmente, naqueles dois dias, nos que se sucederam e até, talvez, nos que já tinham se passado, eu fui e continuo sendo simples e meramente um empecilho no caminho.

Durante as quase doze horas de convivência, em que nós três ficamos juntos e nossas relações coexistiram, fui tomada por um misto de emoções: um aperto no coração, um embrulho no estômago, um certo peso no corpo e uma sensação estranha de calafrio e arrepio na espinha e em outras partes do corpo. Só que para além das manifestações físicas, eu sentia que não havia espaço para mim naquela ocasião, que não era bem vinda e bem quista, que era uma intrusa em algo que não me cabia. Entretanto, de forma contraditória, também sentia um amargor causado pelo querer fazer parte daquilo que estava se desenrolando bem ali na minha frente. Até porque, quem não gostaria de ser olhada de maneira tão terna, quem não gostaria de receber carícias, quem não gostaria de protagonizar cenas de filme madrugada a dentro, quem não gostaria de sentir-se querida e desejada, quem não gostaria de ser a única coisa necessária para tudo ficar bem e pleno.

Contudo, esses papéis não foram direcionados a mim naquele espetáculo. O que me sobrara era ser um empecilho no caminho... Não posso dizer que essa constatação me surpreendeu, pois eu já sabia disso e pensava dessa forma antes mesmo da afirmação retumbar em meus ouvidos e me gelar por inteira enquanto servia meu prato para jantar fazendo-me perder não apenas o apetite, como qualquer esperança que ainda habitava em mim.

E em meio a desesperança, às crises, ao desamparo, ao fundo do poço no qual eu mesma me trouxe, penso em tantos outros momentos nos quais fui exatamente isso: um empecilho no caminho dele impedindo-o de viver sua vida, suas experiências, seus amores, seus desejos, seus sonhos; privando-o das coisas que abrilhantavam seus olhos, aqueciam seu coração e o motivavam a seguir adiante; reprimindo-o e minando sua energia, sua tenacidade, sua estima e sua confiança.

Há quanto tempo eu venho sendo um empecilho no caminho? Por quanto tempo eu ainda serei um empecilho no caminho se sequer sei como deixar de sê-lo? Seguirmos nossos rumos seria a única resolução para essa situação?

Ainda que eu não tenha as respostas dessas e de outras perguntas que me assolam, só consigo pensar que eu poderia ser algo diferente de um empecilho se tudo isso não tivesse partido de mim a quase cinco anos atrás e se não fosse tão difícil abrir mão de tudo aquilo que, às duras penas, foi conquistado. 

Enquanto isso, seguirei sendo um empecilho no meio do caminho. Até que eu deixe de ser.


Gabrielle Colturato

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