Seus cabelos escuros escorriam
junto à curvatura definida de seu corpo nu. Tinha uma pele pálida e meio
azulada devido as veias aparentes, e seus lábios carnudos deixavam-na com uma
fisionomia vulgar. Havia me seduzido em uma mesa de bar, parecendo uma
prostituta suja e barata, com mentirosos olhos azuis que mostravam inocência,
ao contrario do que sua saia justa aparentava...
Agora, deitado nessa cama
fétida de motel, observando-a, percebo a rigidez e tensão presente em sua
feição, mesmo com a péssima iluminação que os postes do outro lado da rua me
fornecem. Seus traços tensos mostram-me que me precipitei ao achar que essa
deslumbrante mulher fosse uma prostituta medíocre. Começando que esta longe de
ser uma puta, e se fosse, estaria mais longe ainda de ser uma meretriz de má
qualidade.
Naquela mesa de bar revelou
mais de si em uma hora, do que minha ex-mulher revelara em sete anos. Acabei
descobrindo que, na realidade, nojenta mesmo era sua historia, e não ela. Se
aquela mulher fosse podre como imaginei que fosse, teria cedido em minha
primeira tentativa de leva-la para um lugar qualquer para poder comê-la,
entretanto só acabou cedendo depois de diversas tentativas.
Acabei permitindo-me ser guiado
para este lugar malcheiroso ao qual ela chama de "lar". Um motelzinho
barato, próximo ao bar em que havíamos nos conhecido mais cedo, onde morava
graças a uma "troca de favores".
Levanto-me cuidadosamente da
cama e visto minha cueca. Esse seria o momento ideal para pegar minhas coisas e
dar o fora daquele lugar, porém algo aqui me dizia para ficar, para deitar
naquela cama e aguardar ela acordar.
Penso. E por fim decido ficar.
Porém, antes de voltar à cama, acendo um cigarro e fuço na geladeira na
esperança de encontrar, pelo menos, algumas latas de cerveja. Iludido.
Geladeira vazia. Termino meu cigarro. São quase quatro da manhã. Deito-me na
cama o mais próximo possível daquele corpo delicioso, do qual esperava poder
degustar mais tarde novamente. Pensando nisso, lembro-me que não sei o nome
dela, porém acabo pegando no sono e esquecendo esse mero detalhe. Descubro
quando acordarmos.
...
...
...
Quando entreabro meus olhos,
sinto-me fraco, e... E gelado. Tento levantar, mas sinto-me indisposto. Abro
meus olhos por inteiro, e dou-me conta daquele cenário horripilante. Estou
imerso em gelo. Ao tentar me mexer novamente, sinto uma dor enlouquecedora.
Estou dentro de uma banheira de motel submerso em gelo.
Consigo ver a porta
entreaberta, e com grande esforço tento escutar algo, e vagamente escuto.
Parece a voz da deslumbrante e sedutora mulher com quem passei a noite.
Aparentemente esta cochichando ao telefone. Tento chama-la, mas meu esforço é
em vão, porém, vindo do vão da porta, ouço:
"— Os rins já foram agora só falta tirar o resto dos
órgãos que nos podem ser úteis".
Dou um suspiro após dar-me
conta do que fui vítima. Traficante de órgãos. E antes de fechar os olhos
novamente, sussurro para mim mesmo: "— Antes tivesse caído fora daqui enquanto essa filha
da puta dormia".
Gabrielle Colturato
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